A proposta dessa dissertação consiste em investigar o uso do patrimônio chileno da arpilleria como instrumento de resistência política pelas mulheres que integram o Movimento dos (as) Atingidos (as) por Barragem (MAB) de Cachoeiras de Macacu, cidade que compõe a região metropolitana do Rio de Janeiro. Como patrimônio cultural chileno, a técnica da arpilleria foi ressignificada pelas mulheres brasileiras no que se refere aos materiais utilizados e recontextualizado segundo suas demandas relacionadas à questão dos impactos causados pela implantação da barragem do COMPERJ no município. O presente trabalho tem por base a memória coletiva das agricultoras do MAB que são expressas no objeto da arpillera e é subjacente à sua técnica. O saber-fazer que permeia a tapeçaria guarda através da técnica camadas de memórias inscritas no corpo do artesão que são expressas através do movimento de suas mãos na confecção de objetos que antes de remeterem ao utilitário, produzem linguagens que revelam uma dimensão simbólica informando acerca do tempo e as condições nos quais foram produzidos. Entre os eixos norteadores para a análise do uso da arpilleria pelas mulheres do MAB estão: a verificação do lugar ocupado pelas artes têxteis e pelas mulheres na arte contemporânea. Assim como, as estratégias contra hegemônicas vinculadas aos conceitos de desenvolvimento sustentável, ecofeminismo, agroecologia e soberania alimentar defendidos pela Via Campesina e a ONU como alternativas de resistência ao desenvolvimentismo que legitimou a implementação de barragens e seus impactos ambientais e sociais sobre as populações rurais, e as relações de poder implicadas no binômio capitalismo/patriarcado que permeiam as relações de classe e, principalmente, de gênero no mundo rural.

Esta dissertação debate a possibilidade de entendimento da matriz xilográfica como elemento depoente de saberes do autor. Objetiva discutir como a matriz é potencialmente descritiva do sujeito e se constitui como patrimônio cultural. Para isso, a partir de abordagem metodológica qualitativa, verificamos a pertinência da pesquisa a respeito da matriz como patrimônio imaterial. Abordamos a cultura material como relativa e confirmadora deste pressuposto, observando neste objeto material, a matriz de xilogravura, as marcas dos saberes que a criaram. A dissertação também faz ponderações a respeito da prática da gravura em madeira, sua história, definições, contexto e construção, seja este material ou de sua sintaxe como linguagem, considerando o papel da matriz na construção do sujeito e da malha cultural. Esse entendimento qualifica a reflexão acerca da matriz xilográfica como elemento que guarda em si, fisicamente, e como linguagem, traços capazes de projetarem o conhecimento nela contido, bem como de configurá-la como bem imaterial.

O presente trabalho procura através da análise historiográfica da documentação, estabelecer paralelos sobre a destruição e submersão da cidade de São João Marcos, através dos lugares de memória em relação a cidade, que em um momento do século XIX, tinha importância relevante para o País, e pouco mais de meio século depois passa a ser esvaziada de significado e de importância para o Estado Brasileiro. Mesmo que por sua relevância como raro exemplo de conjunto arquitetônico Neocolonial tenha sido tombado pelo SPHAN em 19 de maio de 1939, para logo após ser revogada sua proteção pelo presidente Getúlio Vargas em 3 de junho de 1940, com a justificativa de progresso da nação. O objetivo principal desse trabalho é tentar compreender como a memória a partir dos registros documentais e dos relatos dos moradores, podem revigorar ou estabelecer laços importantes com o passado e a realidade cotidiana da cidade de São João Marcos, e como essa ruptura da destruição da cidade criou lacunas na história dessa população e em sua Identidade.

Esta pesquisa buscou investigar a Língua da Tabatinga enquanto elemento de interesse cultural. Trata-se, portanto, de uma estratégia voltada para a percepção do fenômeno linguístico como produto de diversos fatores de ordem sócio-política e de resistência, discutindo as políticas de reconhecimento dos direitos linguísticos, como o Inventário Nacional da diversidade Linguística (INDL) e o Título de Referência Cultural Brasileira (RCB), através do Decreto Iphanº 3.551/2000, e do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI).

Para tanto, a pesquisa buscou refletir sobre os seguintes aspectos: a) compreender o uso da língua da Tabatinga nas interações sociais e o significado que ela assume no âmbito do patrimônio cultural imaterial; b) analisar o uso da língua da Tabatinga através das transformações de autoconsciência cultural de seus falantes; c) compreender a relação cultural entre a Língua da Tabatinga e o território onde é falada: o antigo Quilombo e suas dimensões, e d) analisar como a língua da Tabatinga assume um novo significado na sociedade contemporânea, a partir da adesão de novos falantes e de novas configurações de projetos políticos de âmbito nacional.

A abordagem da pesquisa contempla os campos do Patrimônio Cultural Imaterial e da Diversidade Linguística, e seu foco incide no estudo da Língua da Tabatinga e sua história social a partir de fontes históricas, utilizando conceitos formulados através da sociolinguística e da história oral.

O objetivo principal desse estudo é avaliar os impactos do fenômeno da turistificação em populações tradicionais, tendo como estudo de caso a Região Portuária do Rio de Janeiro e seus bairros (Sáude, Gamboa, Santo Cristo e parte do Centro). Preliminarmente, a região foi marcada historicamente por abrigar a população afro-brasileira, bem como por atividades econômicas impactantes ambientalmente (comercio de escravos, atividades portuárias e industriais etc.). A região portuária é caracterizada por abrigar grande número de população social e historicamente marginalizada que, a partir de 2009, passou a conviver com outra problemática urbana: o incremento da atividade turística. Em vista disso, a turistificação é o processo de transformação de um local em território turístico dos espaços da cidade na promoção dos lugares para atender os anseios de determinados grupos sociais, setor público, privado (agentes de mercado). Ocorre que esse processo está vinculado a prática do turismo cultural que pode ou não trazer benefícios para a população local, dependendo de como é gerido. Observa-se, com base na literatura especializada, que essa atividade pode impactar socialmente a qualidade de vida das comunidades locais e descaracterizar os bens culturais, colocando em risco as referencias dos diferentes grupos identitários. Nesse contexto, o estudo se justifica pelo fato de os citados bairros apresentarem um contexto contrastante composto, de um lado, por uma trajetória histórica de segregação social, combinada com um vasto patrimônio cultural reconhecido nacional e internacionalmente, e de outro, pelos impactos e riscos decorrentes do turismo cultural, tais como, o agravamento dos problemas sociais existentes e o enfraquecimento das práticas culturais tradicionais e de seus elementos identitários por meio da inserção de novos equipamentos culturais urbanos como atração turística, dentre outros. Dentre os objetivos específicos pretendem-se: refletir sobre o fenômeno do turismo nas comunidades urbanas tradicionais e sua relação sócio-cultural; descrever brevemente os marcos sociais, culturais, políticos e históricos da região; abordar as principais transformações sócio-cultural decorrente do novo modelo de gestão urbana da região portuária (Projeto Porto Maravilha) e constatar as perdas e ganhos dos bairros e seus aspectos culturais. Para alcançar os objetivos propostos, o estudo partiu de fundamentação teórica e metodologicamente por meio da análise bibliográfica e observação em lócus das mudanças provenientes das intervenções urbanas e produção das localidades para o incremento da atividade turística. Em face dos objetivos apresentados, o presente trabalho se estrutura em três capítulos, onde inicialmente é abordado o fenômeno do turismo e os impactos na escala local, com destaque para o Rio de Janeiro. No segundo momento, são identificados os marcos sociais, econômicos e históricos das intervenções urbanas, refletindo os estigmas de segregação social e memória social e urbana da região. Por fim, são avaliados os atuais impactos sociais e econômicos, após a implantação do Projeto Porto Maravilha, bem como os possíveis cenários futuros.

Essa pesquisa, no âmbito de um mestrado interdisciplinar em patrimônio, cultura e sociedade, optou por estudar uma instituição expoente na Baixada Fluminense que versa sobre questões pertinentes a ampliação do campo patrimonial: o Museu Vivo do São Bento. Tal escolha se deu pela necessidade e importância de valorizar e potencializar iniciativas que têm como foco o patrimônio, a memória e a história da Baixada Fluminense, questões tão caras para a região. Para tanto, a pesquisa compreende o Museu Vivo do São Bento como um espaço de luta e resistência desde a sua criação e, ainda, investe na percepção e caracterização do sentido das múltiplas atividades desenvolvidas no âmbito da instituição. Toma, assim, a museologia social, da qual o Museu Vivo do São Bento tem por práxis, como importante referencial, que demonstra a partir das frentes de ações e sentidos do museu, quais são os usos e apropriações que são feitos dos saberes e fazeres locais e que contribuem para a construção de sentimentos de pertencimento e de coletividade, além de se incentivar a experimentação da perspectiva dos campos do patrimônio cultural, da educação patrimonial e da museologia social. Esse trabalho, portanto, anuncia esses campos como ferramentas inclusivas e democráticas a serem utilizadas e apropriadas à serviço da inclusão social e da dignidade humana.

O rico patrimônio cultural resendense, construído como herança da cultura cafeeira, nos períodos colonial e Imperial do Brasil, resistiu ao tempo, mas sofre hodiernamente com risco de se perder, tanto no espaço quanto na memória da população do município. A desvalorização econômica e o abandono dessas estruturas arquitetônicas e monumentos históricos são maximizados com o crescimento não planejado pelo qual passou à cidade no último quartil do século XX, quando se tornou importante polo industrial do Estado do Rio de Janeiro, com aumento populacional, crescimento imobiliário local, a desinformação sobre o espaço cultural da cidade e a valorização acentuada da cultura global contemporânea, principalmente, pelos mais jovens. Assim, a presente dissertação pretende apresentar uma discussão acerca da Educação Turística em cidades que tem o turismo como uma de suas atividades econômicas e sociais, bem como sua correlação com a Educação Patrimonial, no caso de cidades históricas ou com remanescentes históricos, como é o caso de Resende/RJ, representado por seu Centro Histórico. A pesquisa se caracteriza como bibliográfica, exploratória, descritiva e qualitativa, servindo-se de entrevistas semiestruturadas, com agentes envolvidos com a temática, e entrevistas estruturadas, com perguntas abertas e fechadas, com moradores do entorno do Centro Histórico de Resende.  O estudo sobre a Educação Patrimonial e Turística se destaca pela sua relevância social para a produção de um diálogo permanente nas perspectivas históricas, culturais, econômicas, ambientais, políticas, sociais e educacionais do município. Como resultado, percebeu-se que a população local e turística, precisa ser sensibilizada por meio de ações educacionais com base no planejamento turístico local, para a conscientização e a conservação dos bens culturais do município. Percebeu-se ainda, a existência de diplomas legais de planejamento que conjugam a área de Educação, Patrimônio e Turismo, bem como projetos relacionados à temática.  No entanto, não há uma efetividade na implantação dos princípios presentes nos diplomas legais, e os projetos, em função de pouco esclarecimento e descontinuidade em sua execução, não vêm atingido todos os objetivos aspirados.

O texto refere-se às memórias da repressão política no Brasil, no período da ditadura militar, até os primeiros anos de redemocratização. Visando os diferentes usos, apropriações e construções de edifícios com o propósito de estabelecer lugares de memória, a presente pesquisa buscou relacionar o Memorial da Anistia Política do Brasil e o uso de seu espaço físico para promover práticas de memória. Tendo a memória como o fio condutor da história, as relações entre identidade social, território, memória social e Estado serão apresentadas.

A presente investigação se insere na linha de pesquisa Patrimônio Cultural: Memória e Sociedade. A dissertação propõe a análise do Complexo Ferroviário de Valença (RJ), através de um estudo detalhado dos imóveis edificados a partir de 1914 pela Estrada de Ferro Central do Brasil (estação, prédios da administração, contabilidade, oficinas, armazém, corredor de casas da vila ferroviária ao longo da Avenida Geraldo de Lima Bastos e da Rua Dr. Souza Nunes e uma praça), a fim de refletir sobre as práticas de conservação e usos desse conjunto ferroviário pelos agentes sociais. Essa estrutura foi criada para atender ao Ramal de Santa Rita de Jacutinga a Governador Portella da Rêde de Viação Fluminense (popularmente conhecido como Linha de Jacutinga). A pesquisa estrutura-se a partir de uma revisão bibliográfica que objetivou entender os principais conceitos relacionados ao Patrimônio Industrial Ferroviário e a problemática que envolve sua identificação. Apresenta como objetivo compreender a articulação entre os “bens ferroviários” do Complexo Ferroviário de Valença, que determina o entendimento sobre o conjunto, a fim de verificar se as medidas de proteção do patrimônio estariam adequadas às diretrizes patrimoniais existentes. De maneira específica, identificamos o estado atual e os usos dos diferentes edifícios (propriedade, uso, proteção legal, estado de conservação e intervenção). Encontramos, parcialmente, políticas de preservação no âmbito municipal e estadual (INEPAC) que atinjam esse conjunto, além de refletir sobre as recomendações patrimoniais e práticas contemporâneas em relação ao Patrimônio Industrial Ferroviário. Para tanto, a investigação apresenta uma metodologia que envolve pesquisa histórica, levantamentos bibliográficos e documentais nas entidades atualmente responsáveis pelos prédios, bem como aos órgãos de preservação, prefeitura, periódicos locais e arquivos particulares, além de memórias escritas e análise dos dados coletados.

Música inspira e provoca sensações, proporciona reflexões, articulando-se em diferentes contextos. Importante elemento para a construção da cultura de um grupo ou lugar, propicia a formação de referências e representações culturais de tal grupo ou lugar, sendo, também, um meio de registro de suas memórias. Nesse sentido, propomos aqui analisar letras de canções sobre a Lapa no Rio de Janeiro, a fim de identificar algumas das memórias do bairro, aspectos culturais e compreender a relação da música com a cultura, a memória e o “lugar de memória”. As canções analisadas foram “Lapa em três tempos”, samba-enredo da Portela, do ano de 1971; “A Lapa”, composta por Benedito Lacerda e Herivelto Martins, em 1950; “Lapa na década de 30” de Moreira da Silva, composta em 1977; “Eu vou pra Lapa”, interpretada por Alcione; “Flor da Lapa”, de Wilson Batista e Cesar Brasil, em 1950; e, “Beijo Sem”, composta por Adriana Calcanhotto, em 2009. Desse modo, tomamos como objetivo geral, discutir sobre a música, enquanto um elemento capaz de evocar memórias e, também, de valorizar e criar lugares de memória. Para tal, usamos como metodologia, o levantamento bibliográfico, os métodos de análise de conteúdo e textual. Como resultado, percebemos que as letras podem evocar memórias, exaltar características do bairro da Lapa, e também, compreender a importância de aparatos, como a música, que possibilita a conservação, a valorização e a continuidade de uma cultura.

A presente dissertação busca contribuir para o campo da conservação da documentação iconográfica referente ao patrimônio arquitetônico, urbanístico e paisagístico, a partir da perspectiva de adoção de tecnologias digitais. Tendo em vista a necessidade de se estabelecer uma política de conservação para o acervo documental do LabDoc/UFRRJ, campus Seropédica, discute-se a importância da conservação da documentação para a preservação da memória, história, assim como fonte de informação para produção de conhecimento tão necessária na gestão do patrimônio cultural. No primeiro momento conceituamos o documento no campo do patrimônio cultural, política do patrimônio cultural e seus princípios. Em seguida, apresentamos a conservação e preservação do patrimônio documental na esfera da administração pública considerando a interface entre conservação documental e políticas públicas arquivísticas. No terceiro momento, analisamos as ações, referentes à gestão de documentos, que utilizam recursos tecnológicos para conservar, gerir, divulgar e acessar ao conhecimento. Por fim, apresentamos a pesquisa de campo realizada em instituições públicas de referência localizadas na cidade do Rio de Janeiro buscando evidenciar como as tecnologias são utilizadas para melhorar as práticas de conservação e disseminação do patrimônio documental iconográfico relativo à arquitetura, urbanismo e paisagismo. Como desdobramento dessa pesquisa, pretendemos contribuir, por meio de um arcabouço teórico e aproximação da prática patrimonial e arquivística, para a melhoria das ações de gestão do LABDOC para a conservação da documentação, de modo a garantir o acesso e disseminação da informação, cumprindo-se assim, o papel desse acervo que é o de servir como fonte de pesquisa para a produção do conhecimento bem como para a conservação do patrimônio arquitetônico, urbanístico, paisagístico da UFRRJ da UFRRJ.