Ácaros e insetos associados a diferentes variedades de lúpulo em quatro municípios do estado do Rio de Janeiro
Humulus lupulus, inseto fitófago, ácaro fitófago, insetos predadores, interação inseto-planta, relação tri-trófica.
O cultivo comercial do lúpulo (Humulus lupulus L., Cannabaceae) é relativamente novo no Brasil se compararmos com países da Europa, como Alemanha, e da América do Norte (Estados Unidos da América, principalmente), os quais são os principais produtores e exportadores de lúpulo peletizado, cujo principal mercado é o setor cervejeiro. No Brasil, a importância da flor feminina dessa planta, chamada de cone, é usada in natura para fabricação de cerveja artesanal, ganhou notoriedade a partir de cultivos nas regiões sul e sudeste. No estado do Rio de Janeiro, o cultivo do lúpulo vem ganhando espaço em municípios da região serrana, particularmente Nova Friburgo e Teresópolis, interessados em atender a demanda interna das cervejarias artesanais. Todavia, problemas fitossanitários associados a essa cultura já vem sendo detectados por produtores e técnicos que os assistem, mas poucos registros técnico-científicos de artrópodes como pragas associadas a essa cultura no Brasil foram encontrados na literatura. Contudo, espécies pragas-chaves do lúpulo cultivado em outros países são conhecidas. Essas observações levantaram a necessidade de responder as seguintes questões técnico-científicas: (1) a artropodofauna fitófaga associada ao lúpulo no Brasil é a mesma que em outros países? E (2) alguma espécie de artrópode fitófago de ocorrência no Brasil é mais comumente encontrado nos cultivos comerciais de lúpulo? Nesse contexto, esse estudo foi desenvolvido com os seguintes objetivos: (1) identificar as espécies da artropodofauna fitófaga (ácaros e insetos) associadas às folhas de H. lupulus (lúpulo), bem como possíveis insetos predadores, em mudas ou plantas adultas nos municípios de Cachoeiras de Macacu, Cordeiro, Nova Friburgo e Seropédica, RJ e (2) avaliar os níveis de infestação do artrópode que infesta mais comumente as folhas de variedades de lúpulo nos plantios comerciais em Cordeiro e Nova Friburgo, e identificar possíveis insetos predadores. Inspeções fitossanitárias foram feitas nas plantas de lúpulo, com auxílio de lupa bolso de 20x, e uma vez detectado artrópodes, as folhas infestadas foram coletadas para identificação no laboratório, onde alguns insetos coletados ainda na fase imatura foram criados para observar seu desenvolvimento e obter o adulto para identificação, e por vezes, dados biológicos. Os resultados obtidos durante o período de estudo (03/julho/2019 a 21/janeiro/2020) mostram que o lúpulo serve de planta hospedeira de artrópodes fitófagos das classes Arachnida (subclasse Acari) e Insecta [ordens Hemiptera (Aetalionidae e Aleyrodidae) e Lepidoptera (Noctuidae)], e que algumas dessas espécies fitófagas estão associadas com insetos predadores. O ácaro rajado, Tetranychus urticae Koch (Acari: Tetranychidae), considerada praga-chave nos países que tradicionalmente cultivam lúpulo, também infesta lúpulo no Brasil, mas seu potencial como praga-chave de plantios comerciais de lúpulo precisa ser futuramente melhor investigado. Os níveis de infestação do ácaro rajado foram maiores em Nova Friburgo do que em Cordeiro. Esse ácaro fitófago infestou as cinco variedades de lúpulo avaliadas (Brazylinsk, Cascade, Hallertau, Saaz e Victoria) em ambos locais, mas não houve diferença nos seus níveis de infestação entre as variedades. Os insetos predadores do ácaro rajado identificados foram os tripes do gênero Scolothrips Hinds [S. sexmaculatus (Pergande) e S. pallidus (Beach) (Thysanoptera: Thripidae)] e joaninhas do gênero Stethorus Weise (Coleoptera: Coccinellidae). Frankliniella gemina Bagnall (Thysanoptera: Thripidae) foi outra espécie de tripes identificada, mas possui hábito fitófago, sendo pouco frequente e ocorrendo em número muito reduzido. O lúpulo é registrado pela primeira vez como planta hospedeira da cigarrinha-das-fruteiras, Aetalion reticulatum (Linnaeus) (Hemiptera: Aetalionidae) no Brasil, onde está associada a 74 espécies vegetais, distribuídas em 32 famílias. Dessa forma, esse resultado amplia a série hospedeira dessa cigarrinha. Observou-se ainda a interação de agregações de A. reticulatum com Trigona spinipes (Fabricius) (Hymenoptera: Apidae). Trialeurodes vaporariorum (Westwood), que é uma espécie praga de lúpulo na Nova Zelândia, é registrada pela primeira vez infestando folhas de lúpulo (variedades Hallertau e Saaz) no Brasil, mas o seu potencial como praga precisa ser ainda investigado. Este é o primeiro registro de lúpulo como planta hospedeira de outras 14 espécies de moscas brancas das subfamílias Aleurodicinae e Aleyrodinae distribuídas entre nove variedades de lúpulo inspecionadas (Brazylinsk, Cascade, Chinook, Columbus, Hallertau, Nugget, Saaz, Spalt e Victoria). O lúpulo é também registrado pela primeira vez como planta hospedeira de larvas de três espécies de Lepidoptera (Noctuidae, Noctuinae): Elaphria agrotina (Guenée), Spodoptera dolichos (Fabricius) e Spodoptera eridania (Stoll), as quais foram capazes de se alimentar de folhas de lúpulo, sendo que essa última foi predada por larva de Ceraeochrysa cornuta (Navás) (Neuroptera: Chrysopidae) em condições de campo. Conclui-se que apenas Tetranychus urticae e Trialeurodes vaporariorum foram as únicas espécies fitófagas de ocorrência comum em outros países associadas ao lúpulo, sendo que a primeira é mais frequentemente encontrada nos plantios comerciais de lúpulo em Nova Friburgo e Cordeiro.