CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DO BIOGÁS E DO DIGESTATO BOVINO E O EFEITO DE SUA APLICAÇÃO NA PRODUTIVIDADE DO MILHO E NAS PERDAS DE N-NH3 DO SOLO
Digestão anaeróbica. Biodigestor. Dejetos agrícolas
A produção de leite no Brasil destaca-se como uma das principais atividades agropecuárias. Porém, a intensificação desse sistema de produção resulta em grandes concentrações de resíduos sólidos e líquidos, que muitas vezes são aplicados na lavoura sem tratamento prévio, podendo causar a degradação dos solos (salinização, contaminação por metais pesados e organismos patogênicos), poluição do ar (emissão de gases que causam efeito estufa) e dos aquíferos (eutrofização dos rios). Para evitar esses problemas, recomenda-se que seja feita a estabilização dos resíduos, que normalmente são despejos in natura, antes da aplicação desses nos solos. Uma forma é a degradação anaeróbica da matéria orgânica que se destaca dos demais tratamentos por gerar, como produto final, o biogás e digestato. O primeiro capítulo do presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da digestão anaeróbia de dejetos bovinos, provenientes do sistema orgânico de produção, em diferentes tempos de retenção hidráulica (TRH). Foram construídos protótipos de biodigestores de bancada de abastecimento em batelada. Os tratamentos consistiam de diferentes TRH: T0 – dejetos de bovino in natura, sem passar pelo processo de digestão anaeróbia; T15; T30; T45; T60; T75; T90 e T240 - dejetos de bovino após 15, 30, 45, 60, 75, 90 e 240 dias de digestão anaeróbia, respectivamente. Após a estabilização dos dejetos, que foi verificada somente após 90 dias de digestão anaeróbia (T90), o digestato foi utilizado como adubo orgânico para a cultura do milho. No segundo capítulo foi avaliado o efeito do digestato na produtividade do milho e o potencial de utilização do mesmo como biofertilizante, em comparação com o adubo mineral (ureia). Também foi monitorada as perdas de N-NH3 do digestato bovino e do adubo nitrogenado. Foram avaliados oito tratamentos e quatro repetições, totalizando 32 unidades experimentais num delineamento inteiramente casualizado, a saber: T0: controle, T1: adubação mineral nitrogenada (ureia, 20 kg ha-1), T2: adubação mineral nitrogenada (ureia, 40 kg ha-1), T3: adubação mineral nitrogenada (ureia, 80 kg ha-1), T4: adubação mineral nitrogenada (ureia, 120 kg ha-1), T5: adubação orgânica (digestato bovino, 20 t ha-1), T6: adubação orgânica (digestato bovino, 40 t ha-1), T7: adubação orgânica (digestato bovino, 80 t ha-1), T8: adubação orgânica (digestato bovino, 120 t ha-1). Finalizando, o terceiro capítulo foi a avaliação da quantidade e da qualidade do biogás resultante do processo de digestão anaeróbia dos dejetos bovinos, dos dejetos suínos e da mistura suíno-bovino (co-digestão). Para realização do experimento, utilizou-se protótipos de biodigestores abastecidos, uma única vez, com os tratamentos supracitados. Para o cálculo do potencial de produção de biogás foram utilizados os dados de produção semanal em relação as quantidades de substrato, de sólidos totais e de sólidos voláteis. A análise da composição química do biogás foi realizada por meio de cromatografia gasosa sendo identificadas as frações de metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2).