Análises de hemoparasitos em indivíduos de Callithrix (Primates: Callithrichidae) de vida livre e cativeiro na região metropolitana do Rio de Janeiro, Brasil
parasitologia, microscopia, genética molecular
Primatas são hospedeiros de diversos hemoparasitos. Os saguis do gênero Callithrix que habitam a região metropolitana do Rio de Janeiro, interagem com humanos podendo ser transmissores de zoonoses. Os objetivos deste estudo foram: identificar as espécies de hemoparasitos detectados em saguis da região metropolitana do Rio de Janeiro através da microscopia, morfometria e genética molecular; comparar os valores de prevalência e intensidade média entre as localidades in situ e ex situ amostradas. Foram realizadas coletas em duas localidades in situ, Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) e Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), e duas ex situ, Biotério da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Biotério-UFRJ) e Centro de Triagem de Animais Silvestres do Rio de Janeiro (CETAS-RJ). Como localidade controle, foram analisadas amostras ex situ do Centro de Recuperação de Animais Silvestres da Universidade do Vale do Paraíba (CRAS-UNIVAP). Aproximadamente 1 ml de sangue foi coletado dos animais para esfregaços e análise genética. As lâminas foram analisadas com registro fotográfico e tomada de medidas morfométricas. Foram analisadas a prevalência e a intensidade média parasitária. O DNA foi extraído a partir das amostras utilizando o método de fenol-clorofórmio. Foram utilizados primers para amplificação do gene 18S rRNA de Trypanosoma e ITS-1 para microfilária por PCR. Amplicons do gene 18S rRNA foram sequenciados, alinhados pelo BLAST® e submetidos à análise filogenética. Foram encontrados nas amostras do JBRJ Trypanosoma sp., microfilárias e Babesia sp. Nas amostras da UFRRJ e CETAS-RJ foram encontrados Trypanosoma sp. Através das análises morfométricas, os Trypanosoma do JBRJ e UFRRJ foram identificados como T. minasense com medidas na margem esperada para espécie nos caracteres TL 28.4-48, PK 6.8-15 e B 2-6 μm. Os fragmentos amplificados para Trypanosoma apresentaram 700 pb conforme o controle positivo, e os fragmentos para microfilária apresentaram entre 200 a 300 pb como na literatura. O sequenciamento dos amplicons do gene 18S rRNA revelaram similaridade genética acima de 97% com T. minasense, agrupando em um mesmo clado na análise filogenética. Os dados morfométricos sugerem que as microfilárias encontradas sejam Mansonella marmosetae e Dipetalonema graciliformis, sendo possível a presença de mais espécies. Através da microscopia, localidades in situ apresentaram taxa de infecção de 25% para Trypanosoma sp., 11% para microfilárias e 3% para Babesia sp. Localidade ex situ apresentaram taxa de infecção de 2% para Trypanosoma sp. Com base nos dados da genética molecular, a taxa de infecção de Trypanosoma in situ foi de 43% contra 14% ex situ, enquanto de microfilárias foi de 21% e 44%, respectivamente. Este resultado parcialmente corrobora a hipótese de que localidades in situ possuem maior probabilidade de ocorrência de hemoparasitoses devido à diversidade e disponibilidade de nichos, contato com outros espécimes e a menores fatores de impedimento físico dos vetores. Do mesmo modo a análise genética molecular se mostrou mais eficaz para a detecção de hemoparasitos. Diferenças referentes às taxas de infecção in situ e ex situ de microfilárias devem estar relacionadas à densidade de hospedeiros e a limitação de seus movimentos.