A birosca e o boteco: trajetórias de donos de bares em uma favela carioca
UPP; economia popular; trajetória de vida; bar; botequim
Este trabalho analisa as trajetórias de donos de bares e seus estabelecimentos com o objetivo
de matizar o percurso de ascensão e queda da política de pacificação em uma favela no Rio de
Janeiro. Explorando as diferenças entre duas modalidades de casas de bebida, a birosca e o
boteco, busco apreender a diversidade de experiências econômicas que caracterizam as favelas
cariocas e me aproximar das micropolíticas que configuraram, na última década, as iniciativas
para a integração social e urbana na capital fluminense. Em 2009, após a instalação de uma
Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), a favela Chapéu Mangueira, na Zona Sul do Rio de
Janeiro, teve o seu cotidiano modificado pela presença policial permanente, pelo incremento de
investimentos públicos e privados e pelo aumento no fluxo de turistas nacionais e estrangeiros.
A seu modo, moradores do Chapéu Mangueira corporificaram um projeto local de
desenvolvimento econômico, avalizado pelo controle policial, que subsidiou diferentes
narrativas sobre integração entre favela e cidade no estado. Com a descaracterização da política
de pacificação, consolidada em 2017, a favela voltou a conviver com episódios de confronto
armado entre policiais e traficantes de drogas e experimentou um significativo esvaziamento da
presença de visitantes e investidores externos. Isso afetou os negócios locais, mas não de forma
homogênea. Por meio de observações situadas e de entrevistas formais e informais, busco
reconstruir o curso das expectativas e desenganos em torno da política de pacificação no Rio de
Janeiro. Esse mergulho na perspectiva individual permite acessar novas hipóteses sobre a
relação entre as formas contemporâneas de se “ganhar a vida” e as transformações urbanas nas
margens da cidade.