A experiência do Movimento dos Pequenos Agricultores- MPA com sementes crioulas no Estado do Rio Grande do Sul
Plano Camponês, Sementes crioulas, Soberania Genética.
RESUMO
O Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), nascido em 1996 no Rio Grande do Sul, consolidou-se como um movimento camponês cuja base social é organizada em grupos de famílias nas comunidades camponesas. Como Movimento em ação, o MPA busca resgatar a identidade e a cultura camponesa, através de uma nova base produtiva pautada nos alicerces da agroecologia camponesa e do abastecimento popular, da cooperação, de sua vivência histórica tendo como base o desenvolvimento do campo e a garantia da soberania alimentar entre outros fatores. Nesse sentido, o objetivo geral da pesquisa foi verificar a experiência que o Movimento dos Pequenos Agricultores acumulou ao logo de sua trajetória no campo da soberania da posse e conservação genética vis-a-vis a consolidação do trabalho com as sementes crioulas no Estado do Rio Grande do Sul mediante a guarda coletiva de sementes e a construção e consolidação de uma Unidade de Beneficiamento de Sementes crioulas em 2015. O universo de estudo foi composto de lideranças do MPA, fundadoras ou não do Movimento e agricultores guardiões de sementes que interagiam com a temática do estudo. Considerou-se como hipótese deste trabalho a afirmativa de que as ações coletivas do MPA podem promover a participação e as condições necessárias para a guarda comunitária das sementes de modo complementar e interdependente. Foram realizadas entrevistas, mediante questionário estruturado, os quais foram aplicados aos diferentes atores sociais envolvidos na implantação e vivência do Movimento dos Pequenos Agricultores no Brasil, bem como com responsáveis por unidades de Beneficiamento de Sementes (UBSs) e agricultores. Também foram fontes de pesquisa documentos e a vivência pessoal do autor desta dissertação, em uma pesquisa de cunho participativo. Constatou-se no decorrer do estudo que foram gatilhos para a fundação do movimento no Rio Grande do Sul as adversidades climáticas da década de 90, a crise de identidade e representatividade dos agricultores frente aos modelos sindicais vigentes que não representava a classe trabalhadora do campo, as próprias dificuldades vistas no campo frente empobrecimento e a marginalização dos agricultores frente a exploração causada pelo capitalismo. Ficou evidenciado na pesquisa a importância do comprometimento do movimento com a proposta de um novo modelo de agricultura para o campo Brasileiro, intitulado Plano Camponês. Segundo o pontuado pelos entrevistados, o Plano, como plataforma política orienta ações para a transformação social, democrática e popular da sociedade brasileira, cumprindo seu papel social relevante que é a produção de alimentos saudáveis, em especial a partir da garantia da soberania genética dos materiais de posse dos agricultores. O trabalho revelou que o MPA através das suas conquistas e parcerias atreladas a sua estratégia na conservação e uso dos recursos genéticos representam um sólido alicerce para as ações dos agricultores. Constatou-se que apesar de existirem muitos gargalos na produção de sementes crioulas, no Rio Grande do Sul, as oportunidades dadas aos agricultores pelo MPA forma capazes de gerar conhecimento e confiança suficiente entre os atores envolvidos. O mesmo foi constatado quando se analisou a unidade de beneficiamento de sementes crioulas, o qual além de compor atualmente parte da estratégia da organização, tem cumprido sua função em massificar a produção de sementes crioulas.